terça-feira, 28 de setembro de 2010

Se a farinha é pouca meu pirão primeiro: a multiplicação dos cretinos especializados

 
Por Geraldo Campos, em
http://www.gestopole.com.br/article.php?article_id=1468
 
Primeiramente quero para aqueles que não conhecem a cultura dos Manezinhos de Florianópolis, explicar o dito popular que é título desta postagem. "Se a farinha é pouca, meu pirão primeiro" se refere aquele ou aquela individualista que não importa o que aconteça não reparte ou compartilha nada com ninguém. Ou seja, independente da quantidade de farinha eu quero o meu pirão.
Estamos vivendo uma carência de bons profissionais em nosso mercado. Empresas procuram desesperadamente profissionais especializados para atenderem as suas necessidades internas e principalmente as necessidades dos seus clientes.
Em uma das minhas aulas com Domenico De Masi, de tanto em tanto dizia dos cretinos especializados. Estes são criaturas que vagam pelo mercado de trabalho e pelas empresas. Fingem ser algo que não são e suas entrevistas de emprego geralmente são recheadas de experiências e competências, que na grande maioria das vezes não condizem com as suas ações práticas. Ou mesmo aqueles que estudam, estudam e estudam, mas não conseguem ter a sabedoria necessária para aplicar seus conhecimentos as situações e necessidades do dia-a-dia.
Então, resolvi mesclar a sabedoria do manezinho à fala de um dos maiores sociólogos da atualidade. Vamos lá as minhas meras considerações.
Muitas são as situações de colaboradores que não sabem trabalhar em equipe e quando se apropriam de qualquer projeto que necessitam realizar o fazem de forma individual, e por vezes usam de ideias que não são de sua autoria. Ou seja, querem ser o primeiro pirão da mesa, independente da quantidade de farinha.
Tenho visto ultimamente uma excessiva competição quando é colocado na mesa de reuniões projetos, ações, viagens e qualquer coisa que os cretinos especializados possam se mostrar e se escalar para o desenvolvimento do trabalho.
Geralmente aquele que é competente não se coloca na situação do leilão ou do bingo dos projetos ou tarefas. Fica no seu canto e espera ser chamado. E sempre é chamado.
O interessante do processo de especialização é que quanto mais se especializa, mas bitolado fica, pois deixa de visualizar as possibilidades que vão além da sua especialidade. Olha que sou professor universitário; e, que geralmente a especialização é muito mais valiosa do que qualquer coisa.
Hoje precisamos além das especializações que são importantes, ficarmos atentos a tudo e a todos, pois o generalismo nos torna pessoas mais capacitadas e competentes. Isto pode ser mais efetivo quando olhamos a globalização, na qual a cada dia temos que estar atentos a tudo, a todos e principalmente a nossa região onde estamos.
Os cretinos especializados têm uma máxima, que está no saber fazer de tudo. Quando alguém me diz que sabe tudo, logo desconfio, pois não deve saber fazer é nada. Quando a criatura diz que "meu nome é trabalho", fico pensando quanto trabalho deve dar para os chefes e seus colegas, pois ninguém é tão capaz de fazer tudo sozinho; e, ainda ter sucesso.
Temos ainda os vampiros de ideias, que as chupam com extrema destreza e habilidade. Não foram poucas as minhas reuniões que alguém dava uma ideia e após cinco minutos esta era usada na fala de outro sem ao menos dar crédito.
Alguns podem me rotular como romântico, mas creio que isto deve ser chamado de ética. Dar crédito é algo que além de prestigiar os demais faz com que seja criado um espírito sinérgico nas pessoas. Entender o quanto importante cada um fazer as suas coisas,ou seja, "cada macaco no seu galho" faz com que haja um ganho substancial no desenvolvimento da tarefa e da empresa, possibilitando melhores resultados aos clientes.
Se pensarmos na competitividade, isto pode ser até legal, não como termo jurídico, mas como gírias juvenil, pois os orcas capitalistas assassinas, podem pensar que isto é correto e continuar sem trégua devorando seus treinadores, colegas e chefes. Alguns ficam apavorados com as orcas, com medo ou mesmo com receio de serem comidos.
Como digo a minha equipe. Cada um faz o seu. Se tu quiseres fazer o do vizinho, não vai fazer nem o teu e nem o dele. Daqui a pouco além de ficar maluco, vais ser expelido por aqueles que estão fazendo "os seus"; e, para terminar a minha fala, complemento: "alguém esta vendo.Sempre tem algum lúcido que enxerga. Se ninguém estiver vendo, mostre trabalho e resultado". Nada melhor do que resultados tangíveis para garantir o pirão. Desta forma, quando a farinha for pouca, ou muito pouca sempre terá um pouquinho de pirão. Quem sabe pode ser você que dividirá o pirão. Então, divida bem e com moderação.

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