From: jthomas luchsinger <jthoma...@gmail.com>
Date: 12 jul, 11:27
Subject: mídia mirabolante
To: Processo Penal I 2010_1 UFAM
*O goleiro Bruno já está condenado *
*(12.07.10)* Por João Ibaixe Jr.,
advogado criminalista.
Pronto!
Mais um caso solucionado pelo melhor setor de investigação criminal do
país:
a mídia. Claro, com amplo apoio da Polícia Civil e, no caso, de dois
Estados
da Federação.
O assassinato da jovem Eliza Samudio, que efetivamente tem
características
de crueldade, provocou a mídia de todo o mundo, em face de envolver
uma
personalidade futebolística, um ídolo dos torcedores do supostamente
(digo
isto em virtude do resultado da copa para nós) maior esporte
brasileiro,
enfim, uma celebridade.
Uma primeira observação tangencial: quem milita na área penal ou
acompanha
questões criminais sabe que há casos muito mais graves e muito, mas
muito,
mais cruéis, que são esquecidos por envolverem desconhecidos e
permanecem
mofando em prateleiras de departamentos burocráticos jurisdicionais. E
pior,
casos em que as provas já foram produzidas e analisadas e apontam
determinantemente para o criminoso e nada com ele acontece. Deste
modo, só
resta mostrar eficiência em casos de repercussão.
E dá-lhe eficiência: provas técnicas de moderníssima geração, exames
em
veículos, comparação de exames de sangue e de DNA, aviões e viaturas à
disposição para conduzir os envolvidos e os policiais, superando a
distância
entre duas unidades federativas, cujos agentes dos órgãos de polícia
judiciária demonstram-se incansáveis. Uma parafernália gigantesca,
praticamente cinematográfica – não se sabe se hollywoodiana ou
bollywoodiana, talvez até digna de cinematografia nacional, apesar
desta se
preocupar mais com a criminalidade relacionada a uma estética da
pobreza.
E a presteza dos Delegados? Incomensurável! Disponíveis a todo minuto
para
dar entrevistas e falar sobre seu trabalho nas investigações e no
levantamento de indícios. Eu disse "indícios"? Desculpe-me, leitor, a
falha.
O trabalho da polícia judiciária seria tecnicamente o de levantar
indícios,
ou seja, indicadores que apontassem um possível criminoso, para que
este
fosse submetido de suspeito à categoria de indiciado, a qual
autorizaria
legalmente que o indivíduo fosse acusado e processado pela Justiça por
ter
cometido um crime e, ao final do processo – destaca-se em negrito ao
final
do processo – fosse considerado culpado e aí, a partir desse momento,
sofresse as penas da lei como responsável pelo delito. Só ao final do
processo, a Justiça, decretando a condenação, poderia apresentar o
indivíduo
como culpado.
Porém, como a Justiça funciona mal, como o caso é de repercussão – a
ponto
de duas polícias de Estados diferentes disputarem a atribuição
investigatória – como está envolvida uma celebridade e como o caso tem
sim
seu aspecto hediondo, o melhor é já apresentar tudo de uma vez agora.
Dane-se o procedimento legal, que é morosidade pura, dane-se a
Constituição,
que só serve para dar direitos a bandidos e dane-se a Justiça, que
somente
atrapalha a rapidez da apuração. Enfim, a polícia falou, "tá" falado!
E a
mídia, afinal, abençoou.
Caso encerrado! Goleiro preso e condenado. Siga-se o próximo.
* Artigo publicado originalmente no saite Última Instânciahttp://
www.espacovital.com.br/noticia_ler.php?id=19560
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