quinta-feira, 3 de abril de 2014

“O Caminho das Pedras


A dúvida no milagre do Mestre fez o apóstolo afundar, mas não morrer afogado.  Ficou estabelecido que: a fé é que faz a espuma do mar ou o banzeiro do rio encrespar tão duro que se transforma em pedra e caminho.  A senha deveria ser “eu creio”, na língua que a Babel daqueles tempos fez-se perder no marasmo linguístico dos nossos tempos e ressurgiu nos códigos de postura como “propina”.
Mudaram, o Natal e o Tempo.  Quem sabe o caminho das pedras, em verdade lhes digo, é o funcionário público, aquele iluminado pela impunidade do emprego vitalício e que odeia, mais do que detesta, ser chamado de servidor público, porque servir ao público não é bem a sua praia, mas servir-se.
Esse poder decisório está encravado, principalmente, no 7º Escalão da administração pública, mas é o mais importante no organograma da administração.  Os partidos políticos que vendem, trocam, alugam, emprestam e rateiam os cargos públicos, como se fossem propriedade sua, não se importam e muito menos sabem onde se estabelece e também circula esse exército de má vontade.  O 7º Escalão é tudo o que resta, depois que a negociata dos partidos se cumpre do 1º ao 3º escalões.
Não é burrice.  É senso de oportunismo desses aliados de governo: o 7º Escalão não comporta cargos comissionados, horas extras, diárias e outras vantagens que somente os funcionários “de confiança”, e não os de carreira, desfrutam.  Esse oportunismo explícito e sem cerimônias revela o quanto governantes e aliados de base não se interessam pelo bem público ou do público que, no final, paga todas as despesas e mais os vencimentos dos seus homens de confiança.
O 7º Escalão, no entanto, é mais importante que Executivo, Legislativo e Judiciário juntos ou em ações isoladas contra o bem público ou do público.  É o senhor todo-poderoso da cartografia do caminho das pedras que leva à solução de todo e qualquer problema em administração.  O 7º Escalão sabe que os governantes e seus cordões de puxa-sacos não duram mais que quatro anos em seus postos.  O 7º Escalão é eterno.  É uma cultura de rancores, ressentimentos, frustrações, de gente mal-amada e que ama muito pior ainda e a quem consola uma única atitude: encravar qualquer trâmite ou avanço de um processo.
O 7º Escalão senta em cima do processo, fá-lo (ó Deus!) dar voltas em torno de si mesmo, troca figurinhas, compra jóias e roupas baratas nos corredores, suspende o atendimento às urgências médicas nos jogos da Seleção, e espera que os governantes e seus puxa-sacos desapareçam nos próximos quatro anos com sua burrice arrogante.  Não se pode contrariá-lo em sua rotina de sabotagem ao serviço público.  Só a propina fá-lo (ó Deus!) funcionar.
O serviço público não tem gerência, por isso o 7º Escalão só dá trabalho e prejuízo, não frita um ovo.  Mas sabe que o caminho das pedras se revela com a palavra “propina”.

 Aldisio Filgueiras
O autor é jornalista e membro da Academia Amazonense de Letras


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